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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Resposta corrosão da armadura #2

Penso que fui fechando os olhos e não abrindo, ou seja, fui sentido a necessidade de ir fechando para conseguir continuar.

Não só por ter me dado conta da impossibilidade reiterada dia após dia dentro da sala de ensaio de que talvez fosse impossível realizar o que nos dispusemos a realizar, ou seja, teatro que revelasse o horror de todo um processo nada desconhecido, mas completamente escancarado naquele momento por conta do famoso “grande evento”.

Fingir que não se apanha quando ninguém está vendo é fácil, agora ser humilhado em praça pública é outra história. Talvez por isso tenha seguido nesse processo mesmo sofrendo derrotas diárias, mesmo constatando reiteradamente a impotência em se lidar com tamanho dragão que já não é jovem, mas parece ficar cada vez mais forte com o avançar da idade. Sigo apanhando, mas faço questão de mostrar que sei que estou apanhando, não me sangram sem que eu veja.

Bom, falo de resistir, é preciso, ou melhor, é a única opção. Não perdemos a briga, pois não há briga, há resistência. Na resistência, os golpes de quem resiste não avariam a carapaça de quem quer atropelar (são como tacar pedra em muro de pedra), mas não tem como ignorar. Essa é a finalidade da resistência: resistir. Viver em resistência, colado com a morte, mas vivo. Então, com isso, não quero dizer que sofro a nossa derrota estética e poética, ela não existiu, pois apesar de TUDO, NÓS RESISTIMOS. Isso era importante.  

Minha abertura de olhos não foi inédita. Foi constatação. CONCRETO ARMADO enquanto luta no campo da arte parou de ser luta quando adentrou uma confortável sala de ensaio no subsolo da zona sul carioca, bem longe de ser afetado por todo desconforto que lhe deu origem, por todo calor, por todo cheiro, por toda miséria...

Já não podíamos ser solidários com tudo aquilo que fomos quando guerrilhamos pelas ruas do centro animalescos em trajes cínicos, ensanguentados na candelária, tentando revelar utopias totalmente possíveis na praia de Copacabana, quicando de ódio diante do fato da morte de alguém que viu todo esse horror e teve que ir pra rua sendo velada ao som de um violino errante dentro de um inadaptável e inquieto teatro do Rio de Janeiro, caminhando pelo deserto dessa cidade pra tentar manter a sanidade, fazendo real festa de aniversário na porta do maior monumento erguido em nome da nossa humilhação, quando fizemos propostas singelas no coração da cidade-absurdo projetada por nosso famoso arquiteto comunista, quando choramos de vergonha ao sermos pisoteados vestidos de  escola pública nos corredores da nossa maravilhosa Universidade do Brasil, ou quando sentamos desarmados nos bancos da histórica e desmanchada Praça Seca para tentar captar algum desejo egoísta de pessoas que só repetem slogans de campanhas eleitorais,

agora vamos quebrar na Lapa o chão que tínhamos pra pisar.


Não sei como continuar...