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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

concreto armado 0




descrição de concreto armado 0

esqueleto

dia 2 de outubro, 14:30, praça cardeal câmara – lapa, rio de janeiro.

por que é preciso destruir o velho para que se crie o novo. por que é preciso quebrar o sólido até que o fragmento re-signifique. por que é preciso reconhecer quando um cenário já não pode dar conta do fazer artístico, seja por questões financeiras que assombram a concretização dos projetos culturais e artísticos no brasil e que não raramente inviabilizam sua continuidade, seja por que o teatro é fluxo, criação ininterrupta, obra em processo até o ultimo dia. e por vezes esse fluxo aponta outros territórios a serem explorados, uma mudança de direção, um re-fazer, re-pensar, re-criar diário. até onde determinada cenografia consegue adaptar-se às novas exigências que surgem ao longo de uma temporada? como uma cenografia pode acompanhar essa mudança constante, esse re-fazer-se da cena?

esqueleto: por que é urgente não permanecer. por que é necessário acentuar o risco. por que é preciso retomar as ruas. é preciso aliviar o peso para que se possa enfim respirar.

breve descrição: as 14:30 na praça cardeal câmara será traçado, com fita crepe, um circulo de 5m de diâmetro, que divido em 9 partes.
após isso, serão carregadas as partes do cenário armazenado no teatro dulcina até a praça. esse trajeto será feito 4 vezes: uma procissão, todos juntos, carregando os módulos. na última caminhada serão carregados os sacos de terra, o vergalhão, o lírio e os materiais da performance. podemos aceitar ajuda de passantes, devemos aceitar ajuda se oferecida.
depois que todos os módulos estejam na praça, o cenário será montado dentro da marcação de crepe. ao terminar, os módulos serão limpos e o vergalhão será fixado.
perto do cenário estarão dispostos todos os materiais da performance, como tintas,  ferramentas e pedras, que ficarão disponíveis para o livre manuseio dos passantes. a palavra “maracanã” será exposta em uma faixa na frente do cenário. neste momento, haverá um intervalo de 1 hora. a interação do publico espontâneo é sempre bem-vinda.
transcorrido esse tempo, as pedras portuguesas serão atiradas, marcando o início da destruição do cenário. essa destruição será feita de forma aleatória, com qualquer material e aberta para qualquer pessoa. só termina quando tudo o que restar sejam apenas fragmentos que caibam em sacos pretos de lixo.
por último, todos os destroços serão recolhidos e colocados dentro de 7 sacos plásticos, que devem ser grandes. eles serão dispostos lado a lado, com a faixa “maracanã” por cima, até que a comlurb recolha.

materiais do esqueleto:
- cenário de concreto armado, que é composto por 9 praticáveis de madeira, 1 vergalhão, 2 sacos de terra e 1 lírio da paz.
- 1 rolo de fita crepe
- 1 pano de chão e balde
- 1 vassoura
- martelos
- marretas
- serrotes
- pedras portuguesas
- tinta jet colorida
- formão
- canetas pilot
- 7 sacos plásticos grandes e pretos
- 1 pá
- 1 faixa branca

consideração final: roupas brancas para que se marque o suor, a poeira, os destroços. o tempo no final do dia. para que se imprima a destruição no corpo.

elsa romero

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Resposta corrosão da armadura #2

Penso que fui fechando os olhos e não abrindo, ou seja, fui sentido a necessidade de ir fechando para conseguir continuar.

Não só por ter me dado conta da impossibilidade reiterada dia após dia dentro da sala de ensaio de que talvez fosse impossível realizar o que nos dispusemos a realizar, ou seja, teatro que revelasse o horror de todo um processo nada desconhecido, mas completamente escancarado naquele momento por conta do famoso “grande evento”.

Fingir que não se apanha quando ninguém está vendo é fácil, agora ser humilhado em praça pública é outra história. Talvez por isso tenha seguido nesse processo mesmo sofrendo derrotas diárias, mesmo constatando reiteradamente a impotência em se lidar com tamanho dragão que já não é jovem, mas parece ficar cada vez mais forte com o avançar da idade. Sigo apanhando, mas faço questão de mostrar que sei que estou apanhando, não me sangram sem que eu veja.

Bom, falo de resistir, é preciso, ou melhor, é a única opção. Não perdemos a briga, pois não há briga, há resistência. Na resistência, os golpes de quem resiste não avariam a carapaça de quem quer atropelar (são como tacar pedra em muro de pedra), mas não tem como ignorar. Essa é a finalidade da resistência: resistir. Viver em resistência, colado com a morte, mas vivo. Então, com isso, não quero dizer que sofro a nossa derrota estética e poética, ela não existiu, pois apesar de TUDO, NÓS RESISTIMOS. Isso era importante.  

Minha abertura de olhos não foi inédita. Foi constatação. CONCRETO ARMADO enquanto luta no campo da arte parou de ser luta quando adentrou uma confortável sala de ensaio no subsolo da zona sul carioca, bem longe de ser afetado por todo desconforto que lhe deu origem, por todo calor, por todo cheiro, por toda miséria...

Já não podíamos ser solidários com tudo aquilo que fomos quando guerrilhamos pelas ruas do centro animalescos em trajes cínicos, ensanguentados na candelária, tentando revelar utopias totalmente possíveis na praia de Copacabana, quicando de ódio diante do fato da morte de alguém que viu todo esse horror e teve que ir pra rua sendo velada ao som de um violino errante dentro de um inadaptável e inquieto teatro do Rio de Janeiro, caminhando pelo deserto dessa cidade pra tentar manter a sanidade, fazendo real festa de aniversário na porta do maior monumento erguido em nome da nossa humilhação, quando fizemos propostas singelas no coração da cidade-absurdo projetada por nosso famoso arquiteto comunista, quando choramos de vergonha ao sermos pisoteados vestidos de  escola pública nos corredores da nossa maravilhosa Universidade do Brasil, ou quando sentamos desarmados nos bancos da histórica e desmanchada Praça Seca para tentar captar algum desejo egoísta de pessoas que só repetem slogans de campanhas eleitorais,

agora vamos quebrar na Lapa o chão que tínhamos pra pisar.


Não sei como continuar...

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

concreto_armado - CORROSÃO DA ARMADURA #2

corrosão #2
quarta-feira, 10 de setembro e 2014
de 17h às 22h na sede inominável
presentes: diogo, dani, helena, laura e elsa

foi um encontro excelente. a comprovação de que a persistência, em tempos tão urgentes, é um gesto revolucionário.

ao término do primeiro encontro (no qual só eu estive presente), a sensação que tinha ficado era de que nada realmente importante havia sido conquistado. sobrou a certeza de que era preciso continuar, persistir um pouco mais.

e que diferença faz a presença das pessoas neste momento de concreto armado. nossa peca precisa de vida. e a presença de cada um se converte num prisma que multiplica os pequenos feixes luminosos que acabam, com algum sacrifício, por surgir.

o encontro começou comigo e com a dani, tendo uma boa conversa sobre produção. em resumo: vamos afinar a produção para que seja possível construir um projeto. a produção para tornar possível. a produção com os pés no chão. sem contar com o que não tem. enfim, batemos as dívidas e tramamos maneiras (bem possíveis) de solucionar nossos débitos.

temos uma data: sete de dezembro de 2014, única apresentação, em florianópolis. lá começaremos um recomeço que já começou. em breve começaremos a ver as questões de logística (já iniciadas no e-mail que enviei sobre as datas das apresentações).

helena chegou, informando da sua ausência por alguns meses (ela vai a trabalho para natal). levantou algumas possibilidades para se fazer presente (disse até ter comprado uma webcam). pensou em antonisia viajando o mundo, gravando vídeos e enviando fotos. ela disse, num dado momento: eu tenho antonisia como estrutura a ser restaurada. isso me pareceu muito bacana, não pela alusão ao restauro (arquitetura), mas para pensar o que seria o nosso concreto após o ponto no qual chegamos.

e então o encontro vai abrindo caminhos. helena me propondo uma presença por meio de vídeos, fotos, skype... e eu me controlando para não odiar toda essa tecnologia (será que ela cabe no nosso orçamento? será que combina com teatro precário?). eu me controlando para não ser predeterminista. ora, por que não? por que não se desfazer – e corroer – também as minhas certezas? concreto sempre me convidou ao desconhecido e eu nunca me permiti – inteiramente – naufragar na escuridão. fiquei pobre riscando fósforos.

pois bem. a coisa do vídeo, da foto, eu passei a dizer que se tratava de janela. antonisia abrindo janelas. janelas dentro do espaço teatral (espaço para mundos hipotéticos). pensar o vídeo no espaço vazio do palco me fez chegar a um primeiro lugar importante nessa retomada:  é preciso chamar a cidade para dentro do palco.

a cidade, a nossa cidade, foi sugerida. evidenciada em palavras. citada. mas não lhe demos corpo. contamos apenas com as imagens do inconsciente coletivo ali reunido. por que não atravessar a cena com a rua? que seja com seu pedaço? com seu cheiro? com alguma ruína sua?

foi importante perceber também, a partir da proposição da helena, que o que importa não é o nome, não é o tema, mas algum mecanismo que se traduz, em cena, como certa potência de vida, certa vitalidade, como um dado procedimento artístico que age, o vídeo pode nos servir para chafurdar a cena de mundo, de rua, de real.

então eu lembrei do texto só que morre pode dizer, que havia escrito no início de janeiro de 2014 e postado no blog. eu li o texto para as meninas. e é curioso: ele parece a coisa mais sincera de todas. a coisa mais sincera sobre esse jogo que inventamos: de por meio do teatro nos fazermos de mortos para falar da vida massacrada.

isso me fez pensar que devo estar em cena, não para estar em cena, mas porque eis o sumo da performance: o corpo do performer é o seu suporte, é aquilo que se diz, é o meio pelo qual se torna possível sinceramente um posicionar-se. se eu preciso dizer o que digo, a dramaturgia do espetáculo precisa desistir de ser texto prévio e virar costura de posicionamentos.

relembrei também o comentario, na época de nossa temporada de estreia, que o professor denilson lopes escreveu sobre concreto: ele dizia que a peça se sustentava numa imagem forte: a do presente sendo narrado por uma narradora póstuma. e que, no final das contas, se tudo já aconteceu, o presente acaba por virar uma contabilidade da fragilidade e das ruínas.

a narradora póstuma, voltando a’o narrador do benjamin, é da morte que ela tira a sanção para narrar.

assim, fomos percebendo: o que é concreto armado?

hoje, concreto armado é uma história póstuma. que acabou, que passou. e é preciso saber deixar passar. concreto é uma história (feita de duas linhas sobrepostas):

linha superior: a história de uma turma de alunos e uma professora que, durante a copa do mundo de 2014, investigam a arquitetura do estádio maracanã, no rio e janeiro.

linha inferior: a história de uma turma de artistas que, durante a copa do mundo de 2014, investigam a criação de um espetáculo teatral, no rio de janeiro.

o saldo final das duas linhas é o mesmo: suicídio coletivo. tanto os personagens (alunos e professora) como os atores (criadores da peça) morreram ao término de concreto armado.

o que restou no fim, depois de tudo já terminado, foram ruínas. algumas dívidas, papeís, cenário, figurino, inúmeros desentendimentos interpessoais, frustrações, algum desejo querendo ressurgir das cinzas, depressão, estresse, morte de propósitos na vida, enfim, muita contradição, vida pura, crua. é isso.

como fazer concreto armado se concreto armado foi sempre uma obra que visou narrar uma história? a única história que queríamos contar era uma história sobre a vida humana. e nos faltou justamente a vida. mas há uma ironia tenaz e reveladora: a nossa ficção virou (sem excesso de literalidade), a nossa ficção virou a nossa vida (inconscientemente).

o processo foi nos guiando não rumo às conquistas daquilo que se desejava no início. o processo foi nos fazendo viver, sem perceber, a tortuosidade do caminho recém escrito em ficção. vivemos muitas mortes, perdemos muito, sofremos um bocado e a sensação é a mesma da realidade pós-copa: lutou-se, morreu-se, matou-se, mas a copa aconteceu. teve copa. o que não teve foi um projeto artístico que conseguisse expor, trazer à luz, o impraticável da vida prática. o absurdo a que chegou o ser humano.

teve copa. o que não teve foi peça de teatro, obra.

fazer concreto agora, refazê-lo, é continuar sua tarefa impossível e não tentar dar jeito ao que já foi tentado. é tentar de novo, tentar pior. e veja: fazer concreto agora é sobreviver a essa lógica escrota do mundo: já que perdemos, já que recebemos a crítica da revista veja e não fomos indicados aos prêmios, agora sim temos o caminho desobstruído para simplesmente existir, fora do circuito tititi, fora do mexerico.

ambas linhas (real e ficção) nos levaram à destruição de grandes elefantes brancos (a peça de teatro no mercado da produção cultural) e o maracanã. é tudo reificação ainda.

nossa peça foi coisificada (reificada) pelo nosso contexto de mundo. o sucesso, a dramaturgia, as expectativas, o festival, o patrocínio, aquela coisa toda... as pessoas que amam concreto, o fazem porque ele se dispôs a tudo aquilo que se dispõe. ele deu nome aos bois e se dispôs a desarranjar o rebanho do senso coletivo; porém, nós, artistas, queremos um pouco mais. queremos extensão dos nossos arrepios diretamente à cena.

depois de muito conversar, faço uma proposta a ser entregue no dia 15 de outubro de 2014: dia dos professores. será a partir do encontro destas propostas que faremos uma composição da nossa trama dramatúrgica.

quando foi que você abriu os olhos, no processo de concreto armado, de uma forma que você não conseguiu mais fechar?

essa pergunta precisa ser perguntada sete vezes. e, naturalmente, é preciso forjar sete respostas. as sete respostas precisam ser colocadas em ordem cronológica. cada resposta deverá ser realizada com alguma comprovação material: pode-se usar postagem do blog, texto de referência, algum e-mail, objeto, uma música do processo, alguma coisa que possa ser colocada entre as mãos e que possa ser passada adiante.

a partir disso, vamos cruzar as linhas (as respostas) de cada um e perceber: eis o nosso caminho de abertura de consciência, se lembram? a peça queria muito falar disso. pois vamos falar sinceramente disso. vamos detectar quais foram os momentos em que nos percebemos, sinceramente, massacrados pelo percurso, mas ainda assim, com saúde nos olhos para ouvir a nossa ignorância! vamos juntar as linhas de consciência, as respostas são o nosso real percurso de abertura e vamos fazer sustenido: crossroad, cruzamento, multiplicação, ###############

vamos juntar nosso encontro e fazer dele alguma gaze ao mundo #

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

concreto_armado - CORROSÃO DA ARMADURA #1

para AdassaAndrêasCarolineDaniFláviaGunnarKeliLauraNatássiaTeoMarina
amores

hoje aconteceu o primeiro encontro, aqui na sede, comigo apenas.

escrevo para contar o que fiz:

escrevi num caderno o passo a passo das sinapses
muitas perguntas
só perguntas
e depois de algumas páginas
algumas hipóteses

acabei escrevendo palavras que me levaram de volta
ao caráter destrutivo do benjamin
reli
e confirmei que o que estamos fazendo agora
é abrir espaço
em meio aos escombros do que construímos
(e que precisa ser destruído)

ainda é difícil pensar em forma (seja do texto como da cena)
até porque
me parece estar bastante inviável pensar só no texto
ou só na cena

o processo de criação quer ser dito
não só como caminho percorrido
mas como experiência vivida

e isso não significa propriamente metalinguagem
(fazermos uma peça que fala de uma peça de teatro)

de fato
o que mais me voltou durante estas horas de trabalho
foi como o processo ignorou os corpos de cada um de vocês

ignorar o corpo (ou conformá-lo) é o mesmo que matar a possibilidade da performance
e noutra instância, é fazer teatro morto
tal como julgo termos feito

no meio da profusão de palavras
me voltou um procedimento inominável
poética negativa
olhei então concreto do jeito que o temos
e o mirei pela lenta da poética negativa

saltaram palavras:
metaficção
colagem
enunciação
exposição
precariedade
abertura
desmontagem
urgência

lembrei de novo da merda da reificação
da coisificação
do espetáculo

que estranho tudo isso
algum nó conceitual nos segura os pés

por fim, ousei fazer uma análise de cada página do nosso texto
tal como escrito para a temporada no espaço sesc

e fui percebendo, cena a cena
como o que nos parecia importante
esteve sempre atrelado a uma dúzia de outras coisas
que ficavam tentando forjar naturalidade
nunca direto ao ponto
sempre dando voltas
e mais voltas
sempre vida lá atrás
ficando miúda e imperceptível

não sei ao certo para onde seguir
mas não imaginava que este momento seria fácil
nem que se resolveria rápido

fato é que a presença de vocês
(ao menos de um, que seja)
é importante

mandei um e-mail, no meio do estudo, para a elsa (com cópia para a dani)
convidando ela para estar conosco
por um único motivo:

não posso me endividar mais com o armazenamento do cenário de concreto
se podemos pagar, ok
se não podemos pagar, não quero tê-lo então

afinar a produção ao nosso tamanho

isso talvez liberte o desejo
e nos permita assumi-lo sem forma na qual ele precise caber

desejo alado

muitas palavras, eu sei
mas precisava escrever a vocês

beijos,

esse texto será postado no blog.

o próximo encontro continua sendo na próximo quarta, 10 de setembro, de 17h/22h <<<