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sábado, 22 de março de 2014

CONCRETO ARMADO estreia no Festival de Curitiba

Na próxima semana, dias 26 e 27 de março, quarta e quinta às 21h, o Teatro Inominável estreia seu novo espetáculo na Mostra 2014 do Festival de Curitiba. CONCRETO ARMADO apresenta o drama de uma professora da pós-graduação de Arquitetura e Urbanismo, interpretada pela atriz Marina Vianna. Junto a uma turma de alunos (Adassa Martins, Andrêas Gatto, Caroline Helena, Flávia Naves, Gunnar Borges e Laura Nielsen), a professora investiga a reforma e a preservação do Estádio Mário Filho - Maracanã - durante a Copa do Mundo de 2014, na cidade do Rio de Janeiro.

CA-cartaz-25fev14

Após a estreia no Festival, o espetáculo realiza a estreia carioca na quinta-feira 03 de abril de 2014, iniciando temporada no Teatro de Arena do Espaço Sesc (Rua Domingos Ferreira, 160 - Copacabana). A temporada se estende até o dia 27 de abril, de quinta a sábado às 20h30 e aos domingos, 19h.

CONCRETO ARMADO - Foto de Paula Kossatz - 01

Confira matéria recente da jornalista e crítica de teatro Luciana Romagnolli, publicada no Jornal Gazeta do Povo, de Curitiba/PR: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1453947

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terça-feira, 18 de março de 2014

processar o processo

não faz sentido sentar agora, 00h25, para escrever sobre o processo. a questão é que o processo de criação se faz em processo e assim também é com a compreensão de todas as coisas.

concreto armado está se anunciando. se há tempo, se está no tempo, não importa. lutamos diariamente para deixar mais claro e evidente aquilo que nem sabemos ainda, mas que já está ali, faz muito tempo, em forma bruta e anuviada.

a performance volta. ela sempre volta. não se brinca com isso e se tira o assunto da roda. eu deveria saber disso, mas é o processo. quando afirmo isso não tiro de mim alguma responsabilidade. está tudo dado, mas com o tempo, o tempo em tentativa consegue ser melhor olhado, com alguma distância que não o olho colado nas mãos em tentação.

hoje, agora, se olho para tudo isso, vejo clarezas irrevogáveis (e como tudo deliberado, como tudo que é categórico e pragmático) e, portanto, sempre e de novo, mais uma vez, questionáveis.

há só perguntas.

linhas narrativas. com quantas linhas e com quantos tipos de linhas se constrói um corpo, uma dramaturgia, do corpo, da revelação, das palavras e da cena? muitas linhas. de muitas qualidades distintas.

concreto armado reúne vozes para dizer o indizível. reúne corpo em gesto e ação expressivas para dar conta do impossível. afinal, quando foi que falar desses assuntos seria algo simples, claro, retilíneo?

temos o drama acontecendo lá onde só o drama pode fazer acontecer alguma coisa. afeto. drama aqui enquanto transformação. nenhuma cena começa sem, ao seu término, ter movido seus atuantes.

temos as imagens mudas, secas de voz, mas carregadas de presença. imagens que anunciam o drama, que o desdobram, que o complementam. imagens são espaços abertos, sugestivos, pedem ao espectador que se mire o conjunto e lhe atribua olhar, tato, sentido sensível.

temos o romance. oh, romance. por que demorei tanto a trazê-lo ao colo? o romance sobrevive enquanto odisséia épica que narra com as suas qualidades específicas aquilo que vemos sem matéria, os sentimentos todos que morrem quando se tenta expressá-los.

o que é, então, a poética de concreto armado?

polifonia sonho. tudo rachado. a unidade está nos cacos que cada fissura costura.

muitas vozes, muitos corpos, em arranjos delicados e frágeis, porque não querem representar o belo animal, querem apenas trazer à mostra, à cena, ao outro (que nos vê e lê), o nosso estado humano fissurado, cortado e ao mesmo tempo costurado por tanta impermanência, tanto desejo de morte e de vida.

aqui, só palavras. na cena e fora dela, arranjos possíveis para dizer do impossível que só mesmo o homem é capaz de criar.

hoje foi dito por marina: construir árvores. não há gesto mais concreto e mais emblemático do que este: ser a confusão das formas que tentam, cada qual a sua maneira, nos consertar.

vamos construir árvores. assim como vamos construir cenas. um gesto artificial que busca atingir a dimensão viva do organismo vivo que só vive hoje porque o convocamos à cena.

paradoxo do comediante hoje e de novo, sempre, outra vez;

quarta-feira, 12 de março de 2014

Roteiro de Cenas - Concreto Armado (Teatro)


1A - Glória e Paolo
1C - Manuela, Antonisia e Alexandre
2B - Riane e Virgília
2C - Alexandre e Antonísia
2D - Glória e Paolo

3A - Pesquisa - Maracanã
4B - Alexandre e Glória
5B - Pesquisa Bic Reificação
6B - Pesquisa - Concreto Fissurado + Virgília
6C - Riane e Virgília

segunda-feira, 10 de março de 2014

NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ - bertold brecht


Aquele que não cedeu
Foi abatido
O que foi abatido
Não cedeu.

A boca do que preveniu
Está cheia de terra.
A aventura sangrenta
Começa.
O túmulo do amigo da paz
É pisoteado por batalhões.

Então a luta foi em vão?

Quando é abatido o que não lutou só
O inimigo
Ainda não venceu.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Rubricas Cena 2 - Guerra


Todos de pé, sem necessariamente mirarem-se nos olhos. Os olhos são sempre as últimas partes do corpo a enxergar. Depois que se morre, os olhos sobrevivem um tempo feito bola de bilhar, opacos e fechados, demoram a se corroer e a fissurar. Em morte, demora-se tempo longo até voltar a enxergar. A consciência de quem morre volta sempre através das pontas dos dedos, facilmente carcomidas, pela primeira pele, já exposta e ferida. Eles se erguem, machucados e mortos.

Quando alguém morre, a primeira pergunta que o corpo faz nascer (e talvez seja isso o que cada corpo, ali, inerte, esteja perguntando) é: o que acontece quando a gente vive?

Paolo senta. Os corpos outros também o fazem. Ele se ergue e se distancia, Manuela arde:

MANUELA
foi por isso que eu escolhi vocês
alunos recém-chegados

A primeira coisa que marca o discurso que sobrevive em cada um é a deliberação. Tudo virou palavra. E após o primeiro encontro ter fim, os corpos mortos podem enfim, lentamente, cada qual a seu tempo, tocar num outro semelhante. Eis que Riane toca em Virgília, toque com proximidade, toque que mistura e cola, toque gelatina.

VIRGÍLIA
oi
riane?
taí?

Talvez, mesmo sem que os olhos tenham certeza se estão vendo ou não, talvez mesmo assim os olhos se busquem e se percam. Elas se procuram. Riane regurgita um arrepio que de tão grande pode apenas se manifestar em melodia. Enquanto ela canta, Virgília volta ao chão, buscando refazer a força da própria ossatura.

Riane cessa a cantoria. Elas estão mais próximas do que nunca estiveram. Mas em morte, não sabem disso ainda.

Gotas escorrem do longo cabelo de Alexandre e lubrificam os olhos. Lubrificar, quando em morte, é o mesmo que oxidar, quando em vida. Lubrificar é convidar a matéria a se desmanchar, a se fissurar inteira e lentamente. Convite sem volta. Alexandre olha a gota. Antonisia também a escuta cair.

ALEXANDRE
caraca, irmão
é muita água

Que gesto foi esse que saltou de um desses dois corpos? Algo que não saberia nomear, mas que tenta acelerar o destino já dado, porém não para a frente, e sim para trás. Quer-se lembrar de tudo o feito. Quer-se lembrar do abraço e do beijo. E quanto mais se fala, mais se lembra.

Paolo se deita sobre o colo, recém-acordado, de Glória. Ela vocifera a ele um punhado de palavras, em altíssima velocidade. Ela não sabe e nem precisa saber, mas foi em morte que eles se casaram, construíram casa, cachorro e barriga.

Rubricas Cena 1 - Sacrifício

Paolo, que havia se posicionado na margem, para ver os amigos mortos sobre a fissura naufragada, senta-se entre margem e planície. Talvez ele sente perto de casa, o vale, sua cova rasa.

Os corpos produzem espasmos. Como gritos finos e contínuos, ou bruscos e interrompidos, não há harmonia. A morte desconhece organização e é linda, mesma em desarranjo. Mais um espasmo. Um lá, outro cá. Os corpos mortos estão nascendo de novo ou, melhor, estão sendo abraçados pela morte.

De súbito, Glória se ergue e permanece ereta, recém-desafogada. Inerte, mira a frente que tem tudo e mesmo tendo tudo não tem nada.

GLÓRIA
é bom demais
para ser verdade


Paolo conversa com ela, mesmo sem olhar nos olhos. Talvez ele se aproxime, mas não consiga acessar o dentro de seus olhos. Ele sabe, é que depois que se morre, o corpo volta primeiro como discurso, como texto, como vômito de tudo que se disse de mais importante, tempos antes de morrer. Eles conversam. Glória mais acelerada, Paolo ligeiramente apaziguado.

Os corpos no chão, eventualmente, como araras, mexem nas penas machucadas, espasmam-se. É a morte ganhando vida enquanto gesto defectível, gesto inominável, ruído, ranhura.

Glória vai ao chão. O corpo não aguenta mais o furor dos desejos interrompidos. Paolo mira um corpo que sobe abrupto. É Virgília, é também Riane, é outro encontro que se refaz acelerado, como se porque tenha sido realmente inesquecível.

VIRGÍLIA
desculpa
uma pergunta


Os olhos não acompanham a velocidade da fala que salta. Talvez por isso pareçam distantes, lá longe, como fossem olhos olhando o acontecimento que hoje sobrevive apenas na memória. Elas se reencontram, mesmo sem estarem olhando - necessariamente - uma para a outra. Quem as costura é o desejo, sobrevivido em palavras.



VIRGÍLIA
não exagera

Riane volta ao chão (RIANE - …) e de súbito de novo emerge.

VIRGÍLIA
tá querendo saber mais o quê
sobre o curso?

Paolo caminha entre os amigos e ergue o corpo latente e doído de quem, hoje ele sabe, de quem ele deveria um dia ter pedido um abraço. Manuela de pé surge aos gritos com Antonisia, que ainda em espasmos, vai surgindo desmanchada e imprecisa.

MANUELA
boicote, antonisia
boicote
...

Discursos na velocidade de luz. Que salta entre as duas mirando-as em escuridão e claridade. Alexandre salta da cova para dentro do mundo.



ALEXANDRE
licença, rapidinho
cês são a professora manuela?



Todos os corpos vão ao chão, exceto o de Paolo, que com alguma curiosidade, vê nos amigos a morte se espraiando. Luz azul iluminando a noite que acorda.

Rubricas Prólogo - Solstício

Prólogo

Manuela adentra o espaço em direção ao topo do planalto. Nas mãos, equilibra uma garrafa cheia de água. Ao chegar no topo, ela estende os braços para frente e fecha os olhos, como se pudesse sentir o ar-condicionado do táxi em que acabou de entrar.

Entrando correndo e rodeando a margem, Alexandre, Antonisia, Glória, Riane e Virgília. Como revoada de passos, de pássaros, eventuais araras, eles entram produzindo o vento que Manuela sente bater na cara. Eles estacam, juntos ou cada um a seu tempo. No ponto em que param, retiram do chão pequenas garrafas de água, que assim como Manuela, seguram numa mão.

Imagem formada. Dá-lhe discurso:

MANUELA
rio de janeiro
ilha do fundão glória, por favor

Ao término, Manuela se banha com a água presa na garrafa. E todos os outros, que estão na margem, fazem o mesmo. Entra Paolo, o coveiro, subindo o planalto, a tempo de segurar o corpo da professora e acomoda-lo ao chão.

Após Manuela ser posta no chão, um a um, os alunos que ocupam a margem, adentram o espaço da planície, do planalto ou mesmo ainda na margem, e se deitam, reproduzindo a imagem final do desmoronamento/naufrágio do Maracanã.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Poema do Romance Teatro


Se eu pudesse escrever um longo poema
capaz de abraçar todo o mundo
Um poema de muitas línguas
feito por mãos distintas
que não só as minhas
Se eu pudesse escrever um poema
e nele pudesse transformar
estrofe em abrigo
verso em abraço
e rima em beijo
preciso e ritmado
Se eu pudesse escrever
um só poema
e nele fosse possível
devolver o medo
a cada peito
e a dúvida
a cada resposta dada
Se eu pudesse escrever poema
não como remédio
mas como sintoma
de que esse mal estar
faz parte do nosso corpo
faz parte desse tempo
e é
e sempre será
responsabilidade nossa
Se eu pudesse escrever a vida
sem segredos
e se eu pudesse com tantas linhas
e versos
ir costurando o corpo apartado
ir cosendo de volta
o preto
no branco
com o vermelho
fazendo rosa escuro e claro
Se eu pudesse um poema
para conviver a diferença
Poema lágrima
que desespera
e acalenta
Poema morte
que germinasse
de volta
as cinzas
a cada vento
Se eu pudesse escrever um longo poema
desses
Ele sem dúvida alguma
seria um romance
e se chamaria Teatro.

segunda-feira, 3 de março de 2014

manuelina

Eles são jovens. Eles são destemidos. Eles querem quebrar tudo, querem fazer do jeito deles, querem inventar um jeito novo de fazer as coisas no teatro, na política, na vida.
Desde que os conheci na Faculdade senti uma grande esperança, um grande contentamento. Porque não tem nome o que ainda está por vir. Mas tem voz, tem corpo, tem coragem: são os Inomináveis! E com eles renovei minha fé no teatro e -  por que não? - na capacidade humana de não se conformar. 
Resta falar do amor. Amor por cada um. Amor, cimento humano.