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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

concreto armado 0




descrição de concreto armado 0

esqueleto

dia 2 de outubro, 14:30, praça cardeal câmara – lapa, rio de janeiro.

por que é preciso destruir o velho para que se crie o novo. por que é preciso quebrar o sólido até que o fragmento re-signifique. por que é preciso reconhecer quando um cenário já não pode dar conta do fazer artístico, seja por questões financeiras que assombram a concretização dos projetos culturais e artísticos no brasil e que não raramente inviabilizam sua continuidade, seja por que o teatro é fluxo, criação ininterrupta, obra em processo até o ultimo dia. e por vezes esse fluxo aponta outros territórios a serem explorados, uma mudança de direção, um re-fazer, re-pensar, re-criar diário. até onde determinada cenografia consegue adaptar-se às novas exigências que surgem ao longo de uma temporada? como uma cenografia pode acompanhar essa mudança constante, esse re-fazer-se da cena?

esqueleto: por que é urgente não permanecer. por que é necessário acentuar o risco. por que é preciso retomar as ruas. é preciso aliviar o peso para que se possa enfim respirar.

breve descrição: as 14:30 na praça cardeal câmara será traçado, com fita crepe, um circulo de 5m de diâmetro, que divido em 9 partes.
após isso, serão carregadas as partes do cenário armazenado no teatro dulcina até a praça. esse trajeto será feito 4 vezes: uma procissão, todos juntos, carregando os módulos. na última caminhada serão carregados os sacos de terra, o vergalhão, o lírio e os materiais da performance. podemos aceitar ajuda de passantes, devemos aceitar ajuda se oferecida.
depois que todos os módulos estejam na praça, o cenário será montado dentro da marcação de crepe. ao terminar, os módulos serão limpos e o vergalhão será fixado.
perto do cenário estarão dispostos todos os materiais da performance, como tintas,  ferramentas e pedras, que ficarão disponíveis para o livre manuseio dos passantes. a palavra “maracanã” será exposta em uma faixa na frente do cenário. neste momento, haverá um intervalo de 1 hora. a interação do publico espontâneo é sempre bem-vinda.
transcorrido esse tempo, as pedras portuguesas serão atiradas, marcando o início da destruição do cenário. essa destruição será feita de forma aleatória, com qualquer material e aberta para qualquer pessoa. só termina quando tudo o que restar sejam apenas fragmentos que caibam em sacos pretos de lixo.
por último, todos os destroços serão recolhidos e colocados dentro de 7 sacos plásticos, que devem ser grandes. eles serão dispostos lado a lado, com a faixa “maracanã” por cima, até que a comlurb recolha.

materiais do esqueleto:
- cenário de concreto armado, que é composto por 9 praticáveis de madeira, 1 vergalhão, 2 sacos de terra e 1 lírio da paz.
- 1 rolo de fita crepe
- 1 pano de chão e balde
- 1 vassoura
- martelos
- marretas
- serrotes
- pedras portuguesas
- tinta jet colorida
- formão
- canetas pilot
- 7 sacos plásticos grandes e pretos
- 1 pá
- 1 faixa branca

consideração final: roupas brancas para que se marque o suor, a poeira, os destroços. o tempo no final do dia. para que se imprima a destruição no corpo.

elsa romero

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Resposta corrosão da armadura #2

Penso que fui fechando os olhos e não abrindo, ou seja, fui sentido a necessidade de ir fechando para conseguir continuar.

Não só por ter me dado conta da impossibilidade reiterada dia após dia dentro da sala de ensaio de que talvez fosse impossível realizar o que nos dispusemos a realizar, ou seja, teatro que revelasse o horror de todo um processo nada desconhecido, mas completamente escancarado naquele momento por conta do famoso “grande evento”.

Fingir que não se apanha quando ninguém está vendo é fácil, agora ser humilhado em praça pública é outra história. Talvez por isso tenha seguido nesse processo mesmo sofrendo derrotas diárias, mesmo constatando reiteradamente a impotência em se lidar com tamanho dragão que já não é jovem, mas parece ficar cada vez mais forte com o avançar da idade. Sigo apanhando, mas faço questão de mostrar que sei que estou apanhando, não me sangram sem que eu veja.

Bom, falo de resistir, é preciso, ou melhor, é a única opção. Não perdemos a briga, pois não há briga, há resistência. Na resistência, os golpes de quem resiste não avariam a carapaça de quem quer atropelar (são como tacar pedra em muro de pedra), mas não tem como ignorar. Essa é a finalidade da resistência: resistir. Viver em resistência, colado com a morte, mas vivo. Então, com isso, não quero dizer que sofro a nossa derrota estética e poética, ela não existiu, pois apesar de TUDO, NÓS RESISTIMOS. Isso era importante.  

Minha abertura de olhos não foi inédita. Foi constatação. CONCRETO ARMADO enquanto luta no campo da arte parou de ser luta quando adentrou uma confortável sala de ensaio no subsolo da zona sul carioca, bem longe de ser afetado por todo desconforto que lhe deu origem, por todo calor, por todo cheiro, por toda miséria...

Já não podíamos ser solidários com tudo aquilo que fomos quando guerrilhamos pelas ruas do centro animalescos em trajes cínicos, ensanguentados na candelária, tentando revelar utopias totalmente possíveis na praia de Copacabana, quicando de ódio diante do fato da morte de alguém que viu todo esse horror e teve que ir pra rua sendo velada ao som de um violino errante dentro de um inadaptável e inquieto teatro do Rio de Janeiro, caminhando pelo deserto dessa cidade pra tentar manter a sanidade, fazendo real festa de aniversário na porta do maior monumento erguido em nome da nossa humilhação, quando fizemos propostas singelas no coração da cidade-absurdo projetada por nosso famoso arquiteto comunista, quando choramos de vergonha ao sermos pisoteados vestidos de  escola pública nos corredores da nossa maravilhosa Universidade do Brasil, ou quando sentamos desarmados nos bancos da histórica e desmanchada Praça Seca para tentar captar algum desejo egoísta de pessoas que só repetem slogans de campanhas eleitorais,

agora vamos quebrar na Lapa o chão que tínhamos pra pisar.


Não sei como continuar...

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

concreto_armado - CORROSÃO DA ARMADURA #2

corrosão #2
quarta-feira, 10 de setembro e 2014
de 17h às 22h na sede inominável
presentes: diogo, dani, helena, laura e elsa

foi um encontro excelente. a comprovação de que a persistência, em tempos tão urgentes, é um gesto revolucionário.

ao término do primeiro encontro (no qual só eu estive presente), a sensação que tinha ficado era de que nada realmente importante havia sido conquistado. sobrou a certeza de que era preciso continuar, persistir um pouco mais.

e que diferença faz a presença das pessoas neste momento de concreto armado. nossa peca precisa de vida. e a presença de cada um se converte num prisma que multiplica os pequenos feixes luminosos que acabam, com algum sacrifício, por surgir.

o encontro começou comigo e com a dani, tendo uma boa conversa sobre produção. em resumo: vamos afinar a produção para que seja possível construir um projeto. a produção para tornar possível. a produção com os pés no chão. sem contar com o que não tem. enfim, batemos as dívidas e tramamos maneiras (bem possíveis) de solucionar nossos débitos.

temos uma data: sete de dezembro de 2014, única apresentação, em florianópolis. lá começaremos um recomeço que já começou. em breve começaremos a ver as questões de logística (já iniciadas no e-mail que enviei sobre as datas das apresentações).

helena chegou, informando da sua ausência por alguns meses (ela vai a trabalho para natal). levantou algumas possibilidades para se fazer presente (disse até ter comprado uma webcam). pensou em antonisia viajando o mundo, gravando vídeos e enviando fotos. ela disse, num dado momento: eu tenho antonisia como estrutura a ser restaurada. isso me pareceu muito bacana, não pela alusão ao restauro (arquitetura), mas para pensar o que seria o nosso concreto após o ponto no qual chegamos.

e então o encontro vai abrindo caminhos. helena me propondo uma presença por meio de vídeos, fotos, skype... e eu me controlando para não odiar toda essa tecnologia (será que ela cabe no nosso orçamento? será que combina com teatro precário?). eu me controlando para não ser predeterminista. ora, por que não? por que não se desfazer – e corroer – também as minhas certezas? concreto sempre me convidou ao desconhecido e eu nunca me permiti – inteiramente – naufragar na escuridão. fiquei pobre riscando fósforos.

pois bem. a coisa do vídeo, da foto, eu passei a dizer que se tratava de janela. antonisia abrindo janelas. janelas dentro do espaço teatral (espaço para mundos hipotéticos). pensar o vídeo no espaço vazio do palco me fez chegar a um primeiro lugar importante nessa retomada:  é preciso chamar a cidade para dentro do palco.

a cidade, a nossa cidade, foi sugerida. evidenciada em palavras. citada. mas não lhe demos corpo. contamos apenas com as imagens do inconsciente coletivo ali reunido. por que não atravessar a cena com a rua? que seja com seu pedaço? com seu cheiro? com alguma ruína sua?

foi importante perceber também, a partir da proposição da helena, que o que importa não é o nome, não é o tema, mas algum mecanismo que se traduz, em cena, como certa potência de vida, certa vitalidade, como um dado procedimento artístico que age, o vídeo pode nos servir para chafurdar a cena de mundo, de rua, de real.

então eu lembrei do texto só que morre pode dizer, que havia escrito no início de janeiro de 2014 e postado no blog. eu li o texto para as meninas. e é curioso: ele parece a coisa mais sincera de todas. a coisa mais sincera sobre esse jogo que inventamos: de por meio do teatro nos fazermos de mortos para falar da vida massacrada.

isso me fez pensar que devo estar em cena, não para estar em cena, mas porque eis o sumo da performance: o corpo do performer é o seu suporte, é aquilo que se diz, é o meio pelo qual se torna possível sinceramente um posicionar-se. se eu preciso dizer o que digo, a dramaturgia do espetáculo precisa desistir de ser texto prévio e virar costura de posicionamentos.

relembrei também o comentario, na época de nossa temporada de estreia, que o professor denilson lopes escreveu sobre concreto: ele dizia que a peça se sustentava numa imagem forte: a do presente sendo narrado por uma narradora póstuma. e que, no final das contas, se tudo já aconteceu, o presente acaba por virar uma contabilidade da fragilidade e das ruínas.

a narradora póstuma, voltando a’o narrador do benjamin, é da morte que ela tira a sanção para narrar.

assim, fomos percebendo: o que é concreto armado?

hoje, concreto armado é uma história póstuma. que acabou, que passou. e é preciso saber deixar passar. concreto é uma história (feita de duas linhas sobrepostas):

linha superior: a história de uma turma de alunos e uma professora que, durante a copa do mundo de 2014, investigam a arquitetura do estádio maracanã, no rio e janeiro.

linha inferior: a história de uma turma de artistas que, durante a copa do mundo de 2014, investigam a criação de um espetáculo teatral, no rio de janeiro.

o saldo final das duas linhas é o mesmo: suicídio coletivo. tanto os personagens (alunos e professora) como os atores (criadores da peça) morreram ao término de concreto armado.

o que restou no fim, depois de tudo já terminado, foram ruínas. algumas dívidas, papeís, cenário, figurino, inúmeros desentendimentos interpessoais, frustrações, algum desejo querendo ressurgir das cinzas, depressão, estresse, morte de propósitos na vida, enfim, muita contradição, vida pura, crua. é isso.

como fazer concreto armado se concreto armado foi sempre uma obra que visou narrar uma história? a única história que queríamos contar era uma história sobre a vida humana. e nos faltou justamente a vida. mas há uma ironia tenaz e reveladora: a nossa ficção virou (sem excesso de literalidade), a nossa ficção virou a nossa vida (inconscientemente).

o processo foi nos guiando não rumo às conquistas daquilo que se desejava no início. o processo foi nos fazendo viver, sem perceber, a tortuosidade do caminho recém escrito em ficção. vivemos muitas mortes, perdemos muito, sofremos um bocado e a sensação é a mesma da realidade pós-copa: lutou-se, morreu-se, matou-se, mas a copa aconteceu. teve copa. o que não teve foi um projeto artístico que conseguisse expor, trazer à luz, o impraticável da vida prática. o absurdo a que chegou o ser humano.

teve copa. o que não teve foi peça de teatro, obra.

fazer concreto agora, refazê-lo, é continuar sua tarefa impossível e não tentar dar jeito ao que já foi tentado. é tentar de novo, tentar pior. e veja: fazer concreto agora é sobreviver a essa lógica escrota do mundo: já que perdemos, já que recebemos a crítica da revista veja e não fomos indicados aos prêmios, agora sim temos o caminho desobstruído para simplesmente existir, fora do circuito tititi, fora do mexerico.

ambas linhas (real e ficção) nos levaram à destruição de grandes elefantes brancos (a peça de teatro no mercado da produção cultural) e o maracanã. é tudo reificação ainda.

nossa peça foi coisificada (reificada) pelo nosso contexto de mundo. o sucesso, a dramaturgia, as expectativas, o festival, o patrocínio, aquela coisa toda... as pessoas que amam concreto, o fazem porque ele se dispôs a tudo aquilo que se dispõe. ele deu nome aos bois e se dispôs a desarranjar o rebanho do senso coletivo; porém, nós, artistas, queremos um pouco mais. queremos extensão dos nossos arrepios diretamente à cena.

depois de muito conversar, faço uma proposta a ser entregue no dia 15 de outubro de 2014: dia dos professores. será a partir do encontro destas propostas que faremos uma composição da nossa trama dramatúrgica.

quando foi que você abriu os olhos, no processo de concreto armado, de uma forma que você não conseguiu mais fechar?

essa pergunta precisa ser perguntada sete vezes. e, naturalmente, é preciso forjar sete respostas. as sete respostas precisam ser colocadas em ordem cronológica. cada resposta deverá ser realizada com alguma comprovação material: pode-se usar postagem do blog, texto de referência, algum e-mail, objeto, uma música do processo, alguma coisa que possa ser colocada entre as mãos e que possa ser passada adiante.

a partir disso, vamos cruzar as linhas (as respostas) de cada um e perceber: eis o nosso caminho de abertura de consciência, se lembram? a peça queria muito falar disso. pois vamos falar sinceramente disso. vamos detectar quais foram os momentos em que nos percebemos, sinceramente, massacrados pelo percurso, mas ainda assim, com saúde nos olhos para ouvir a nossa ignorância! vamos juntar as linhas de consciência, as respostas são o nosso real percurso de abertura e vamos fazer sustenido: crossroad, cruzamento, multiplicação, ###############

vamos juntar nosso encontro e fazer dele alguma gaze ao mundo #

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

concreto_armado - CORROSÃO DA ARMADURA #1

para AdassaAndrêasCarolineDaniFláviaGunnarKeliLauraNatássiaTeoMarina
amores

hoje aconteceu o primeiro encontro, aqui na sede, comigo apenas.

escrevo para contar o que fiz:

escrevi num caderno o passo a passo das sinapses
muitas perguntas
só perguntas
e depois de algumas páginas
algumas hipóteses

acabei escrevendo palavras que me levaram de volta
ao caráter destrutivo do benjamin
reli
e confirmei que o que estamos fazendo agora
é abrir espaço
em meio aos escombros do que construímos
(e que precisa ser destruído)

ainda é difícil pensar em forma (seja do texto como da cena)
até porque
me parece estar bastante inviável pensar só no texto
ou só na cena

o processo de criação quer ser dito
não só como caminho percorrido
mas como experiência vivida

e isso não significa propriamente metalinguagem
(fazermos uma peça que fala de uma peça de teatro)

de fato
o que mais me voltou durante estas horas de trabalho
foi como o processo ignorou os corpos de cada um de vocês

ignorar o corpo (ou conformá-lo) é o mesmo que matar a possibilidade da performance
e noutra instância, é fazer teatro morto
tal como julgo termos feito

no meio da profusão de palavras
me voltou um procedimento inominável
poética negativa
olhei então concreto do jeito que o temos
e o mirei pela lenta da poética negativa

saltaram palavras:
metaficção
colagem
enunciação
exposição
precariedade
abertura
desmontagem
urgência

lembrei de novo da merda da reificação
da coisificação
do espetáculo

que estranho tudo isso
algum nó conceitual nos segura os pés

por fim, ousei fazer uma análise de cada página do nosso texto
tal como escrito para a temporada no espaço sesc

e fui percebendo, cena a cena
como o que nos parecia importante
esteve sempre atrelado a uma dúzia de outras coisas
que ficavam tentando forjar naturalidade
nunca direto ao ponto
sempre dando voltas
e mais voltas
sempre vida lá atrás
ficando miúda e imperceptível

não sei ao certo para onde seguir
mas não imaginava que este momento seria fácil
nem que se resolveria rápido

fato é que a presença de vocês
(ao menos de um, que seja)
é importante

mandei um e-mail, no meio do estudo, para a elsa (com cópia para a dani)
convidando ela para estar conosco
por um único motivo:

não posso me endividar mais com o armazenamento do cenário de concreto
se podemos pagar, ok
se não podemos pagar, não quero tê-lo então

afinar a produção ao nosso tamanho

isso talvez liberte o desejo
e nos permita assumi-lo sem forma na qual ele precise caber

desejo alado

muitas palavras, eu sei
mas precisava escrever a vocês

beijos,

esse texto será postado no blog.

o próximo encontro continua sendo na próximo quarta, 10 de setembro, de 17h/22h <<<

sábado, 21 de junho de 2014

depois de tudo já terminado...

começo por uma dúvida: talvez eu devesse escrever essas palavras em meu blog pessoal, ou no meu caderno, agenda, nas paredes de casa, ou talvez apenas nas paredes da consciência.

depois ultrapasso a dúvida e penso: por que não escrever no blog de concreto armado toda essa coisa que me toma e me impede alguma chegada?

o processo continua em mim, feito máquina de moer carne (e também ossos). como é difícil olhar o caminho percorrido, agora, depois de tudo já terminado. percebo que tudo acaba e tudo continua. e que é esse o jogo mais cruel e sensato: a vida continua.

depois penso - e começo a realmente perceber - que a dor é minha e não é de mais ninguém. existe uma cobrança imensa que eu trouxe a mim quando na verdade, talvez, eu tivesse que ter deixado ela simplesmente passar por mim, por este projeto... eu não sei. precisou e ainda se está precisando de tempo.

tenho a terrível sensação que o desejo - hoje - é capaz de ferir e cansar, o desejo é essa força que revoluciona e que agrega, mas também é a força capaz de gastar e torturar. que cansaço esse processo de criação. que abismo imenso. quantas tentativa e quanta - ainda - irresolução. ok. eu penso agora: mas havia algo a ser resolvido? não, não havia... mas a cobrança do mundo nos confronta com a poesia crua e ingênua das nossas intuições e desejos mais primitivos: era só uma peça de teatro. devia ter sido apenas isso.

mas para onde a levei? eu, um dos inúmeros criadores deste projeto?

eu não sei. ao menos, agora, desejo me juntar novamente para tocar no impossível com mãos mais calejada e íntimo absurdamente mais ciente do buraco no qual nos lançamos.


sábado, 22 de março de 2014

CONCRETO ARMADO estreia no Festival de Curitiba

Na próxima semana, dias 26 e 27 de março, quarta e quinta às 21h, o Teatro Inominável estreia seu novo espetáculo na Mostra 2014 do Festival de Curitiba. CONCRETO ARMADO apresenta o drama de uma professora da pós-graduação de Arquitetura e Urbanismo, interpretada pela atriz Marina Vianna. Junto a uma turma de alunos (Adassa Martins, Andrêas Gatto, Caroline Helena, Flávia Naves, Gunnar Borges e Laura Nielsen), a professora investiga a reforma e a preservação do Estádio Mário Filho - Maracanã - durante a Copa do Mundo de 2014, na cidade do Rio de Janeiro.

CA-cartaz-25fev14

Após a estreia no Festival, o espetáculo realiza a estreia carioca na quinta-feira 03 de abril de 2014, iniciando temporada no Teatro de Arena do Espaço Sesc (Rua Domingos Ferreira, 160 - Copacabana). A temporada se estende até o dia 27 de abril, de quinta a sábado às 20h30 e aos domingos, 19h.

CONCRETO ARMADO - Foto de Paula Kossatz - 01

Confira matéria recente da jornalista e crítica de teatro Luciana Romagnolli, publicada no Jornal Gazeta do Povo, de Curitiba/PR: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1453947

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terça-feira, 18 de março de 2014

processar o processo

não faz sentido sentar agora, 00h25, para escrever sobre o processo. a questão é que o processo de criação se faz em processo e assim também é com a compreensão de todas as coisas.

concreto armado está se anunciando. se há tempo, se está no tempo, não importa. lutamos diariamente para deixar mais claro e evidente aquilo que nem sabemos ainda, mas que já está ali, faz muito tempo, em forma bruta e anuviada.

a performance volta. ela sempre volta. não se brinca com isso e se tira o assunto da roda. eu deveria saber disso, mas é o processo. quando afirmo isso não tiro de mim alguma responsabilidade. está tudo dado, mas com o tempo, o tempo em tentativa consegue ser melhor olhado, com alguma distância que não o olho colado nas mãos em tentação.

hoje, agora, se olho para tudo isso, vejo clarezas irrevogáveis (e como tudo deliberado, como tudo que é categórico e pragmático) e, portanto, sempre e de novo, mais uma vez, questionáveis.

há só perguntas.

linhas narrativas. com quantas linhas e com quantos tipos de linhas se constrói um corpo, uma dramaturgia, do corpo, da revelação, das palavras e da cena? muitas linhas. de muitas qualidades distintas.

concreto armado reúne vozes para dizer o indizível. reúne corpo em gesto e ação expressivas para dar conta do impossível. afinal, quando foi que falar desses assuntos seria algo simples, claro, retilíneo?

temos o drama acontecendo lá onde só o drama pode fazer acontecer alguma coisa. afeto. drama aqui enquanto transformação. nenhuma cena começa sem, ao seu término, ter movido seus atuantes.

temos as imagens mudas, secas de voz, mas carregadas de presença. imagens que anunciam o drama, que o desdobram, que o complementam. imagens são espaços abertos, sugestivos, pedem ao espectador que se mire o conjunto e lhe atribua olhar, tato, sentido sensível.

temos o romance. oh, romance. por que demorei tanto a trazê-lo ao colo? o romance sobrevive enquanto odisséia épica que narra com as suas qualidades específicas aquilo que vemos sem matéria, os sentimentos todos que morrem quando se tenta expressá-los.

o que é, então, a poética de concreto armado?

polifonia sonho. tudo rachado. a unidade está nos cacos que cada fissura costura.

muitas vozes, muitos corpos, em arranjos delicados e frágeis, porque não querem representar o belo animal, querem apenas trazer à mostra, à cena, ao outro (que nos vê e lê), o nosso estado humano fissurado, cortado e ao mesmo tempo costurado por tanta impermanência, tanto desejo de morte e de vida.

aqui, só palavras. na cena e fora dela, arranjos possíveis para dizer do impossível que só mesmo o homem é capaz de criar.

hoje foi dito por marina: construir árvores. não há gesto mais concreto e mais emblemático do que este: ser a confusão das formas que tentam, cada qual a sua maneira, nos consertar.

vamos construir árvores. assim como vamos construir cenas. um gesto artificial que busca atingir a dimensão viva do organismo vivo que só vive hoje porque o convocamos à cena.

paradoxo do comediante hoje e de novo, sempre, outra vez;

quarta-feira, 12 de março de 2014

Roteiro de Cenas - Concreto Armado (Teatro)


1A - Glória e Paolo
1C - Manuela, Antonisia e Alexandre
2B - Riane e Virgília
2C - Alexandre e Antonísia
2D - Glória e Paolo

3A - Pesquisa - Maracanã
4B - Alexandre e Glória
5B - Pesquisa Bic Reificação
6B - Pesquisa - Concreto Fissurado + Virgília
6C - Riane e Virgília

segunda-feira, 10 de março de 2014

NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ - bertold brecht


Aquele que não cedeu
Foi abatido
O que foi abatido
Não cedeu.

A boca do que preveniu
Está cheia de terra.
A aventura sangrenta
Começa.
O túmulo do amigo da paz
É pisoteado por batalhões.

Então a luta foi em vão?

Quando é abatido o que não lutou só
O inimigo
Ainda não venceu.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Rubricas Cena 2 - Guerra


Todos de pé, sem necessariamente mirarem-se nos olhos. Os olhos são sempre as últimas partes do corpo a enxergar. Depois que se morre, os olhos sobrevivem um tempo feito bola de bilhar, opacos e fechados, demoram a se corroer e a fissurar. Em morte, demora-se tempo longo até voltar a enxergar. A consciência de quem morre volta sempre através das pontas dos dedos, facilmente carcomidas, pela primeira pele, já exposta e ferida. Eles se erguem, machucados e mortos.

Quando alguém morre, a primeira pergunta que o corpo faz nascer (e talvez seja isso o que cada corpo, ali, inerte, esteja perguntando) é: o que acontece quando a gente vive?

Paolo senta. Os corpos outros também o fazem. Ele se ergue e se distancia, Manuela arde:

MANUELA
foi por isso que eu escolhi vocês
alunos recém-chegados

A primeira coisa que marca o discurso que sobrevive em cada um é a deliberação. Tudo virou palavra. E após o primeiro encontro ter fim, os corpos mortos podem enfim, lentamente, cada qual a seu tempo, tocar num outro semelhante. Eis que Riane toca em Virgília, toque com proximidade, toque que mistura e cola, toque gelatina.

VIRGÍLIA
oi
riane?
taí?

Talvez, mesmo sem que os olhos tenham certeza se estão vendo ou não, talvez mesmo assim os olhos se busquem e se percam. Elas se procuram. Riane regurgita um arrepio que de tão grande pode apenas se manifestar em melodia. Enquanto ela canta, Virgília volta ao chão, buscando refazer a força da própria ossatura.

Riane cessa a cantoria. Elas estão mais próximas do que nunca estiveram. Mas em morte, não sabem disso ainda.

Gotas escorrem do longo cabelo de Alexandre e lubrificam os olhos. Lubrificar, quando em morte, é o mesmo que oxidar, quando em vida. Lubrificar é convidar a matéria a se desmanchar, a se fissurar inteira e lentamente. Convite sem volta. Alexandre olha a gota. Antonisia também a escuta cair.

ALEXANDRE
caraca, irmão
é muita água

Que gesto foi esse que saltou de um desses dois corpos? Algo que não saberia nomear, mas que tenta acelerar o destino já dado, porém não para a frente, e sim para trás. Quer-se lembrar de tudo o feito. Quer-se lembrar do abraço e do beijo. E quanto mais se fala, mais se lembra.

Paolo se deita sobre o colo, recém-acordado, de Glória. Ela vocifera a ele um punhado de palavras, em altíssima velocidade. Ela não sabe e nem precisa saber, mas foi em morte que eles se casaram, construíram casa, cachorro e barriga.

Rubricas Cena 1 - Sacrifício

Paolo, que havia se posicionado na margem, para ver os amigos mortos sobre a fissura naufragada, senta-se entre margem e planície. Talvez ele sente perto de casa, o vale, sua cova rasa.

Os corpos produzem espasmos. Como gritos finos e contínuos, ou bruscos e interrompidos, não há harmonia. A morte desconhece organização e é linda, mesma em desarranjo. Mais um espasmo. Um lá, outro cá. Os corpos mortos estão nascendo de novo ou, melhor, estão sendo abraçados pela morte.

De súbito, Glória se ergue e permanece ereta, recém-desafogada. Inerte, mira a frente que tem tudo e mesmo tendo tudo não tem nada.

GLÓRIA
é bom demais
para ser verdade


Paolo conversa com ela, mesmo sem olhar nos olhos. Talvez ele se aproxime, mas não consiga acessar o dentro de seus olhos. Ele sabe, é que depois que se morre, o corpo volta primeiro como discurso, como texto, como vômito de tudo que se disse de mais importante, tempos antes de morrer. Eles conversam. Glória mais acelerada, Paolo ligeiramente apaziguado.

Os corpos no chão, eventualmente, como araras, mexem nas penas machucadas, espasmam-se. É a morte ganhando vida enquanto gesto defectível, gesto inominável, ruído, ranhura.

Glória vai ao chão. O corpo não aguenta mais o furor dos desejos interrompidos. Paolo mira um corpo que sobe abrupto. É Virgília, é também Riane, é outro encontro que se refaz acelerado, como se porque tenha sido realmente inesquecível.

VIRGÍLIA
desculpa
uma pergunta


Os olhos não acompanham a velocidade da fala que salta. Talvez por isso pareçam distantes, lá longe, como fossem olhos olhando o acontecimento que hoje sobrevive apenas na memória. Elas se reencontram, mesmo sem estarem olhando - necessariamente - uma para a outra. Quem as costura é o desejo, sobrevivido em palavras.



VIRGÍLIA
não exagera

Riane volta ao chão (RIANE - …) e de súbito de novo emerge.

VIRGÍLIA
tá querendo saber mais o quê
sobre o curso?

Paolo caminha entre os amigos e ergue o corpo latente e doído de quem, hoje ele sabe, de quem ele deveria um dia ter pedido um abraço. Manuela de pé surge aos gritos com Antonisia, que ainda em espasmos, vai surgindo desmanchada e imprecisa.

MANUELA
boicote, antonisia
boicote
...

Discursos na velocidade de luz. Que salta entre as duas mirando-as em escuridão e claridade. Alexandre salta da cova para dentro do mundo.



ALEXANDRE
licença, rapidinho
cês são a professora manuela?



Todos os corpos vão ao chão, exceto o de Paolo, que com alguma curiosidade, vê nos amigos a morte se espraiando. Luz azul iluminando a noite que acorda.

Rubricas Prólogo - Solstício

Prólogo

Manuela adentra o espaço em direção ao topo do planalto. Nas mãos, equilibra uma garrafa cheia de água. Ao chegar no topo, ela estende os braços para frente e fecha os olhos, como se pudesse sentir o ar-condicionado do táxi em que acabou de entrar.

Entrando correndo e rodeando a margem, Alexandre, Antonisia, Glória, Riane e Virgília. Como revoada de passos, de pássaros, eventuais araras, eles entram produzindo o vento que Manuela sente bater na cara. Eles estacam, juntos ou cada um a seu tempo. No ponto em que param, retiram do chão pequenas garrafas de água, que assim como Manuela, seguram numa mão.

Imagem formada. Dá-lhe discurso:

MANUELA
rio de janeiro
ilha do fundão glória, por favor

Ao término, Manuela se banha com a água presa na garrafa. E todos os outros, que estão na margem, fazem o mesmo. Entra Paolo, o coveiro, subindo o planalto, a tempo de segurar o corpo da professora e acomoda-lo ao chão.

Após Manuela ser posta no chão, um a um, os alunos que ocupam a margem, adentram o espaço da planície, do planalto ou mesmo ainda na margem, e se deitam, reproduzindo a imagem final do desmoronamento/naufrágio do Maracanã.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Poema do Romance Teatro


Se eu pudesse escrever um longo poema
capaz de abraçar todo o mundo
Um poema de muitas línguas
feito por mãos distintas
que não só as minhas
Se eu pudesse escrever um poema
e nele pudesse transformar
estrofe em abrigo
verso em abraço
e rima em beijo
preciso e ritmado
Se eu pudesse escrever
um só poema
e nele fosse possível
devolver o medo
a cada peito
e a dúvida
a cada resposta dada
Se eu pudesse escrever poema
não como remédio
mas como sintoma
de que esse mal estar
faz parte do nosso corpo
faz parte desse tempo
e é
e sempre será
responsabilidade nossa
Se eu pudesse escrever a vida
sem segredos
e se eu pudesse com tantas linhas
e versos
ir costurando o corpo apartado
ir cosendo de volta
o preto
no branco
com o vermelho
fazendo rosa escuro e claro
Se eu pudesse um poema
para conviver a diferença
Poema lágrima
que desespera
e acalenta
Poema morte
que germinasse
de volta
as cinzas
a cada vento
Se eu pudesse escrever um longo poema
desses
Ele sem dúvida alguma
seria um romance
e se chamaria Teatro.

segunda-feira, 3 de março de 2014

manuelina

Eles são jovens. Eles são destemidos. Eles querem quebrar tudo, querem fazer do jeito deles, querem inventar um jeito novo de fazer as coisas no teatro, na política, na vida.
Desde que os conheci na Faculdade senti uma grande esperança, um grande contentamento. Porque não tem nome o que ainda está por vir. Mas tem voz, tem corpo, tem coragem: são os Inomináveis! E com eles renovei minha fé no teatro e -  por que não? - na capacidade humana de não se conformar. 
Resta falar do amor. Amor por cada um. Amor, cimento humano.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Descrição de paisagem

1 interna -  arquitetura óssea, sanguínea, muscular, orgânica

2 "real" - o que vejo diante dos meus olhos, o "espaço"

3 a descrição do estádio maracanã (formas, números, texturas, cores, etc)

4 descrição da memória daquele teatro, lembrar (localizar no espaço) cenários, acontecimentos ficcionais, atores

5 a descrição da rua, do entorno urbano, engenharia do trânsito, números de linhas de ônibus, lambe-lambes, nomes de lojas, etc

6 descrição de lugares com nomes indígenas

7 a paisagem em ruína

por marina,

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Glorinha (Maria da Glória)

Por Laura Nielsen

Experiências que me abriram o olhar e me proporcionaram uma tomada de consciência:

- Aos 10 anos, por ser uma criança muito bagunceira e conversar muito durante as aulas, fui punida. A coordenadora do Colégio São Vicente, onde eu estudava, me trocou de turma. Fui separada das minhas amigas e caí numa sala onde não conhecia ninguém, e todos me olhavam com desconfiança. Sofri demais!! Acho que pela primeira vez na vida me senti completamente solitária e inadequada. O sentimento de injustiça também foi enorme.

- Morte da minha avó. Acho que eu tinha uns 13 anos. Vi ela definhando de câncer. Uma imagem dela muito magrela, com a pele do rosto e da boca descamando e meio cinza, me marcou muito. Era a morte próxima. Ou a morte já presente, palpável.

- Morei um ano fora do Brasil. Acho que se fosse em qualquer parte do mundo já seria uma oportunidade de muita descoberta, por permitir um olhar distanciado do Brasil. Morei dos 17 para os 18 anos na Dinamarca. País gelado, com um dos menores índices de corrupção do mundo, onde tudo funciona perfeitamente. Mesmo! Eu, acostumada com a pobreza e a precariedade do Brasil, achei tudo bem impressionante!

- Com 18 anos, depois de algum tempo aprisionada no esporte (fui atleta na adolescência), larguei a natação e voltei a fazer teatro! Uma libertação! Descoberta do corpo, da poesia...

- Assisti “Romeu e Julieta” do Grupo Galpão e logo em seguida vi um show do Antonio Nóbrega, dois trabalhos que me emocionaram muito e me despertaram um enorme interesse pela cultura popular.

- Leitura do livro “Mulheres que correm com os lobos”. Um olhar super profundo sobre a sensibilidade feminina.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Arquiteturas em Arena



http://www.espacoacademico.com.br/021/21tc_benjamin.htm

Em suspeita, qualquer justificativa (ou finalidade) para a violência.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

"Contra o que eu estou lutando?"


 

envelopes

dos cidadãos de Brasília para os cariocas:

. Pensar em conjunto.
. Paz!!
. melhorias nos meios de transporte, na saúde e escolas mas atenção com os nossos filhos pois são poucas as melhorias
. Desejo que, por meio de seus atos, os cidadãos cariocas espalhem amor pela cidade
. O  CRISTO NÃO pode SUMIR
. Espalhem a simpatia por aí
. acabar com a cbf. E rebaixar o fluminense. Vende o maracanã para ajudar na saúde, educação e segurança
. que vocês descubram que o próximo é uma extensão de cada um!
. Eu acho que o dinheiro que tá sendo aplicado na copa podia ser gasto em saúde. essa é a minha opinião
. Que os cariocas ocupem suas praças, ocupem os espaços públicos e que o espírito democrático permaneça vívido!!
. Desejo que os cidadãos do Brasil, cada um tome a iniciativa de tornar este país melhor de viver, através de pequenos atos, como sorrir ao se dirigir às pessoas, tolerar os erros do próximo e sempre enxergar o lado positivo de todas pessoas, coisas e fatos!
. Mais amor em cada canto do Brasil!
. Eu, como fã incondicional e eterna apaixonada pelo Rio, peço paz para todos e que os cariocas cuidem da cidade maravilhosa que possuem! Obrigada!
. menos violência
saúde
educação
justiça
segurança


domingo, 9 de fevereiro de 2014

sobre a morte.

 

contamos história dentro de um teatro. mesmo a presença, ali no palco concentrada, quer contar história, serve para isso. para narrar o acontecido. todas as noites contamos a mesma coisa. ou seja, não há nada novo. a história, a fábula, ela sempre já terá acontecido.

pois sim. então, dessa maneira, não há inédito. há a mesma história ali sendo contada sempre e novamente de novo.

quer dizer: esses personagens narram o já ocorrido. ocorrido com eles. e eles só podem nos contar isso por um detalhe sórdido e específico: o teatro é uma experiência humana que nos permite brincar de morte. brincar com o já ido.

assim, se esses personagens já morreram nessa história, resta a eles nos contar sobre o vivido. sobre como foi o percurso, o trajeto, até chegarem nisso. naquilo. na morte. a morte dá a eles um saldo que escapa ao tempo. eles podem contar o que viram, como foi, como viveram. porque a morte interrompe, corta, cessa os ponteiros e abre apenas um clarão (de consciência).

quanto mais se afasta a morte da vida, mais a vida tenta suicídio.

selamos esse pacto. eles morrem. eles morreram sempre e de novo a cada início de peça. e a peça de teatro é o local onde podemos narrar o já ocorrido, a vida (sem segredos), expressa em afetos e conflitos.

era isso.

só para registrar.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Fundação


Foto de Paula Kossatz

Naomi Doran: paleta de cores, conceitos e outros aspectos visuais.

Estes são alguns dos trabalhos da artista Naomi Doran, processos de exploração e experimentação do potencial criativo autônomo e visual de materiais de construção industriais. Segue um texto que encontrei dela falando sobre: “Minha inspiração vem da paisagem arquitetônica e natural que me rodeia, desolada, abandonada e decadente; mas também da forma como as forças elementares da natureza manipulam e transformam superfícies, cores e formas. Minha arte é uma abstração direta da natureza e do ambiente construído, um vocabulário 3D de tudo o que me rodeia. Minhas pinturas esculturais incorporam o concreto líquido solidificado com o aço corroído e cobre patinado. INCENTIVO OS PROCESSOS DE OXIDAÇÃO E CORROSÃO QUE CONSEGUEM CRIAR UMA "ARTE VIVA" - pinturas que evoluem ao longo do tempo. Ao fazer isso, sou capaz de reforçar e enfatizar as características naturais dos próprios materiais. Fraturas capilares intricadas aparecem, a ferrugem cresce, as cores desenvolvem-se e se transformam. O resultado deste processo simbiótico é, portanto, uma colaboração entre a natureza e minha, um produto do meu próprio projeto e do ambiente em que ele é criado”. Observação atenta para a frase em caixa alta. Para conhecer a obra completa dela, aqui: http://naomidoran.com

"Vai ter Copa do Mundo, sim"

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Publicado em 26/01/2014

Vai ter Copa
do Mundo, sim

“Como a desinformação alimenta o festival de besteiras ditas contra a Copa do Mundo de Futebol no Brasil.”

(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política e torcedor da Seleção Brasileira de Futebol desde sempre.

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indicação | blog da Raquel Rolnik


indicação do luciano corrêa,

Oi Diogo, esse é o bolg da Rachel Rolnik, urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada.

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Glossário de Arquitetura

http://www.arquitetando.xpg.com.br/dicionario%20de%20arquitetura.htm

Para Paolo ---

 

indicação de paula kossatz.

concreto armado i

 

concreto armado i

descrição de concreto armado i

correspondência capital

essa perfomance se realiza no trânsito epistolar entre cidadãos das duas cidades. pequenos bilhetes com desejos, conselhos, recados, revelações, notícias serão recolhidos em envelopes individuais e anônimos na praça da cinelândia, na antiga capital (rio) e na praça dos 3 poderes (em brasília). a performer abordará os passantes pedindo-lhes que escrevam um bilhete para a outra cidade e lhes explicará que isso faz parte da construção de sua performance (por ex.: "oi, com licença, eu tô fazendo uma performance lá no rio e preciso que vc escreva nesse papel e coloque nesse envelope um pedido ou um recado ou um desejo para a outra cidade..."). o rio ouvirá brasília e vice-versa, mesmo que só algumas poucas pessoas façam parte dessa rede.

cada cidadão que escrever uma carta ganhará um pedaço de giz como brinde.

a performance busca traçar e entrelaçar fragmentos de narrativas de duas cidades-capitais.

duas perguntas serão feitas:

qual o monumento da sua cidade que poderia sumir?

qual o monumento daquela outra cidade que poderia sumir?

marina vianna

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Interlúdio

Paolo

A coisa mais bonita que o trabalho com teatro me permitiu foi aprender a morrer.
Essa é a coisa mais linda.
Isso não é necessariamente magia ou coisa incapaz de explicar: é só uma possibilidade.
É só um desejo. Tudo isso aqui é só um desejo. E como todo desejo: isto aqui é só uma imagem.
Quem trabalha com teatro sempre vai ouvir alguém dizer que por estar num palco como este, em formato esférico, será preciso dar conta de todos os olhos que o miram por todos os lados. Eu sei disso. Já me disseram. Mas eu não preciso mirar todos os olhos porque mesmo sem vê-los eu sei que vocês podem me ver. Eu sinto. E tudo isso eu apenas sei porque  eu estou morto.
Eu estou morto agora, mas mesmo assim, eu estou aqui conversando com vocês.
Morto, de verdade, eu veria tudo isso mas poderia contar  a ninguém o que descobri. Não poderia compartilhar a beleza que é morrer, que é ver por todos os lados a vida, sem segredos. Por isso eu amo meu trabalho. Porque quem morre - assim como eu morri - vira uma espécie de Deus. Um pássaro, por exemplo, ele é livre, mas preso dentro da prisão do ar. O nosso espírito, por sua vez, ele também é livre, mas é livre preso na prisão do corpo. Só que livre, bem livre mesmo, é quando se está morto. Como eu agora.
Morto, tal como es estou, eu posso ver além das paredes. Ver o que está aí dentro, aqui dentro e através dos seus olhos, e dos seus, eu vejo através da sua pele e da sua dúvida também. Quando alguém morre, o corpo morto se desmancha em matéria e abraça o mundo inteiro, porém, não com braços nem mais com mãos, mas tão somente com abraço-partícula. Partícula que de tão pequena só pode morar no vento. "Chamamos de vento esse abraço imenso que costura um mundo". Dar abraço-partícula é muito mais inteiro e aconchegante do que poderia se prever. Eu abraço vocês agora. Eu abraço esta cidade inteira. Eu abraço nosso país e todas as coisas sem nome que ainda não tivemos condições de descobrir.
Esta peça deseja abraçar muita coisa, tocar em muito assunto, em muito sentimento. Deseja acessar arrepios imensos, injustiças tornadas oficiais e sonhos interrompidos, intensos descontentamentos. Eu só estou morto para conseguir nos guiar por todos esses lugares, antes que eu venha a morrer. Por conta disso eu sou alguém que narra a dor.
Eu morri. E por ser alguém morto, eu não precisei mais me preocupar com tempo nem relógio, nem com casa propriedade chão nem teto, eu perdi todo e qualquer limite e passei a viver de novo enquanto acontecimento.
Eu estou aqui com vocês agora, vocês me vêem? Eu estou morto e só por isso posso contar a vocês a história de algumas vidas, como foi a minha, como ainda é a de vocês, como foram outras que já passaram por aqui e que ainda hoje sobrevivem acariciadas em morte.
Acompanhem-me, por favor.
Eu lhes peço.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Fundação X Obra nas personagens de CONCRETO ARMADO

 

Sobre aquilo que se deseja ser e o que se é efetivamente.

Sobre o que sustenta o edíficio da individualidade humana.

Sobre discurso e práxis.

 

Alexandre

Liberdade x Responsabilidade

 

Antonisia

Virtualidade x Realidade

 

Eleonora

Planejamento x Efetivação

 

Manuela

Fechamento x Abertura

 

Paolo

Clareza

 

Riane

Dúvida x Afirmação

 

Virgília

Geral x Específico

 

domingo, 19 de janeiro de 2014

QUANDO O CRIME ACONTECE COMO A CHUVA QUE CAI - Bertold Brecht, Poemas 1913 - 1956


Como alguém que chega ao balcão com uma carta importante após o
horário de atendimento: o balcão está fechado. Como alguém que quer
prevenir a cidade contra uma inundação, mas fala uma outra língua: ele
não é compreendido. Como um mendigo que bate pela quinta vez numa
porta onde já recebeu algo quatro vezes: pela quinta vez tem fome.
Como alguém cujo sangue flui de uma ferida e que espera pelo médico:
seu sangue continua saindo.

Assim chegamos e relatamos que se cometem crimes contra nós.

Quando pela primeira vez foi relatado que nossos amigos estavam sendo
mortos, houve um grito de horror. Centenas foram mortos então. Mas
quando milhares foram mortos e a matança era em fim, o silêncio tomou
conta de tudo.

Quando o crime acontece como a chuva que cai, ninguém mais grita
"alto!".

Quando as maldades se multiplicam, tornam-se invisíveis.
Quando os sofrimentos se tornam insuportáveis, não se ouvem mais os
gritos.
Também os gritos caem como a chuva de verão.

Rolezinho Brecha Coletivo - 2010

http://vimeo.com/84436006

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Arquitetura Nômade

Há uma proteína no DNA no Rio de Janeiro que é muito rara: ousadia. É só olhar para a cidade, que nos últimos tempos se transformou em um canteiro de obras. É preciso ter paciência, é verdade. Mas o término do conjunto de intervenções que a prefeitura está promovendo vai reposicionar a Cidade Maravilhosa no século XXI. Estamos paulatinamente corrigindo a assimetria da qualidade dos serviços públicos: mobilidade, saneamento, equipamentos de saúde e educação, revitalização de espaços públicos. Estamos criando uma nova rede, mais bem distribuída e com maior coesão e eficiência. É o fim da cidade partida.

O planejamento para os Jogos Olímpicos é criterioso e segue muito bem. Ele é rigoroso, mas não é rígido - é flexível, aberto a inovações e a soluções ousadas e criativas. Está no nosso DNA, é só checar a história. A cidade do Rio já desmontou morros e com a terra fez aterros e aeroportos, construiu parques, abriu avenidas, redesenhou paisagens, edificou estátuas a 700 metros do nível do mar, uniu morros com bondes, afastou o mar e fez a maior obra paisagística do mundo: o Parque do Flamengo.

Os projetos para as Olimpíadas começam a se desenhar com base na premissa fundamental de construção de um legado. Os Jogos devem e vão servir à cidade. E queremos elevar essa capacidade olímpica de transformação à máxima potência. O que estamos propondo em termos de legado é um conceito totalmente novo, que acreditamos ser revolucionário, e cria um novo paradigma para a própria mecânica de produção das Olimpíadas - é a Arquitetura Nômade. Inteligência carioca pura.

Qual o sentido de edificar um prédio para ser usado por, no máximo, 30 dias? Ou de construir um espaço esportivo com número máximo de assentos necessários para o período de pico de lotação que, passado esse período, não conseguirá manter nem metade do público? Ou ainda projetar uma estrutura totalmente desconectada do perfil do bairro? Tamanho e localização são dois vetores fundamentais nesse processo.

Um aspecto decisivo para a vitória da cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 foi a de já ter uma quantidade de equipamentos esportivos. Alguns deles são urbanisticamente regeneradores, como o Engenhão; outros são importantes, mas trazem em si baixa contribuição urbana, como o Parque Aquático Maria Lenk. E se fosse possível fazer com que os prédios andassem, mudassem de formato ou de lugar? Então o velódromo do Parque Olímpico, na Barra, poderia se transformar em um Ginásio Experimental Carioca, em Anchieta. O complexo de tênis poderia virar uma biblioteca na Maré. A arena de lutas poderia se transmutar em um teatro na Região Portuária.

Isso é exatamente o que estamos propondo e queremos fazer. A cidade vai investir em novos prédios para eventual uso esportivo que, passada a utilidade olímpica, vão se reposicionar na cidade e ter sua finalidade convertida em algo que agregue valor e seja realmente útil ao dia a dia e à vida do carioca.

Na década de 30, Le Courbusir já falava em novos modos de construir. Há tecnologia para isso no mercado atual da engenharia civil. O mundo vive um novo limiar para a arquitetura com processos de pré-fabricação digital cada vez mais eficientes e de baixo custo. Não é simplesmente desfazer uma estrutura temporária ao final da competição. Vai muito além. Hoje, é possível desmontar prédios e reerguê-los com novas funções em outros lugares, onde façam mais sentido, em um tempo razoável e com custo otimizado. É possível, e necessário, trabalhar com os conceitos da reutilização de materiais, em projetos de menor impacto ambiental. Modernidade, sustentabilidade e novas tecnologias. Esta que estou chamando de Arquitetura Nômade busca conexões mais sinérgicas com o futuro e com as verdadeiras demandas das comunidades.

A Olimpíada não trata somente de esporte e não é só para o atleta. Ela significa mais equipamentos e serviços públicos de qualidade para a população do Rio. E é justamente por sua abrangência que as Olimpíadas são tão importantes para nossa cidade e foram tão desejadas. O Rio de Janeiro é hoje o centro urbano mais provocador do mundo, e os Jogos de 2016 devem espelhar a nossa ousadia. Afinal, ousadia está no DNA do Rio.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dê Um Rolê - Novos Baianos

Banco de Material Emergido das Improvisações - segunda, 13 janeiro 2014 (Tema: Primeiros Contatos)

improvisações segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Cena - Riane e Virgília, primeiro contato

Riane na sala de espera da secretaria da faculdade. Virgília chega e se senta.
elas em algum momento se percebem. um olhar. nada.
Virgília, após curta espera, faz menção de se dirigir ao balcão. Riane, prontamente

R - Oi, é, é que eu sou a próxima

Virgília, tranquila

V -  tudo bem, só ia  fazer uma pergunta

Riane se desculpa.

R - é o calor. e a espera. desculpa.
V - tudo bem

tempo

R - é pós ?
V - oi?
R - se é pra pós que você...
V - ah, sim, é
R - arquitetura e urbanismo?

elas começam uma conversa sobre o que estão ali para fazer. a certa altura o papo morre. tempo. Riane retoma, sabe-se lá por que cargas d’água, comentando da pesquisa da Manuela e terminando com um

R - ela é massa.

Virgília, sabe-se lá por que cargas d’água, demonstra algum interesse.

V - bem legal, vou dar uma sondada

chega a vez de serem atendidas e Riane diz

R - pode ir, faço questão

Virgília resiste charmosa, mas, enfim, aceita.

V - a gente se vê, então

R - é, a gente se vê



Cena - Manuela e Alexandre, primeiro contato

Manuela está na sala, onde acaba de ter estado em reunião tensa, (pode ter sido justo a reunião em que ela tentou argumentar sobre o desfalque no processo da sua bolsa), meio puta, arrumando suas coisas pra sair, ou procurando alguma coisa de que tenha sentido falta dentro da bolsa (bolsa mesmo, de guardar as coisas). Do nada, Alexandre aparece na porta, sem cerimônia alguma, por engano, pergunta se é ali que vai ser a reunião xxxxx.
Manuela diz que não, que não sabe nada a respeito.

A - obrigado.

Sai.

Manuela continua ali, enrolada com sua busca na bolsa.

tempo.

Manuela irritada desiste, bufa. “foda-se. vou fumar um cigarro.” encosta a porta. adulto fumando escondido. pega o cigarro na bolsa, o isqueiro. vai pra janela. quando ia botando o cigarro na boca, susto com a volta de Alexandre, falando ininterruptamente:

A - Desculpa, mas não é você que é  a Manuela? que deu aula pra xxxxxxx não sei quando? cara, eu ouço muito falar de vc, fulano meu amigo falou de você, cicrano meu amigo falou de você, falaram bem, né, claro, imagina se eu/ engraçado, cê me lembra tanto aquela atriz…

M - (sim, joguei pedras na cruz) é mesmo? que atriz?

A - gente, aquela do… vários filmes, aquele do… enfim… nossa, tá aqui assim, daqui a pouco vem,

(vai falando sem o menor feeling de que pode estar interrompendo a solidão de alguém que a desejava muitíssimamente. Manuela ouve o menino, incrédula, pensando cá consigo mesma: “já vi que hoje é dia”)

A - [...] e pelo que eles me disseram eu acho que tem tudo a ver com um estudo que eu tô fazendo agora sobre xxxxxxxx, pesquisando um pouco dessa coisa da vivência do espaço em situações de xxxxxxx,  etc, xxxxxxxxxxx, como eu tô entrando agora na Pós - cê dá aula na Pós, né?, pois é, beltrano também me comentou - eu pensei se, não, sei lá, podia assistir alguma aula tua, assim de ouvinte mesmo, sem compromisso, xxxxxxxxxx, ou se então a gente não poderia xxxxxxxxx, sabe? que esse semestre eu, assim, tô, quero entrar pra matar, sabe? tipo, quê que cê acha?

Longo silêncio de uma Manuela perplexa. a falta de tato do despejo verbal de Alexandre extrapolou tanto os limites do aceitável que terminou por conseguir sê-lo, `a sua maneira.

M - Qual seu nome?

A - Ah é, pô, esqueci, é Alexandre, meu nome, Alexandre

M - Olha: Alexandre. eu passei hoje aqui duas horas, nessa mesma sala tendo que lidar com muitas pessoas, como dizer?, pessoas... sem noção, e eu realmente não pensei que eu poderia ver algo tão similar ou até pior em tão curto espaço de tempo.

A - (o sorriso congela)  …? (será que eu saio? cavo um buraco? morro?)

M - No entanto. (tempo. Manuela refaz sua própria lógica em sua própria cabeça) Bom, tá na chuva, né… Eu vou começar uma pesquisa… agora não tô muito com cabeça pra falar. cê vê lá na grade e se você se interessar encaminha um pedido até amanhã na xxxxxxxxx.

A - pô, nem sei o que dizer, incrível, claro, vou, vou sim, eu/

M - agora cê me desculpa, Alexandre, eu preciso muito dar um telefonema.

A - Claro, claro, não, pô, magina. Valeu, Manuela, brigado.

Sai

Manuela sozinha.respira. tempo. “isso aconteceu?”
calmamente retorna ao cigarro escondido na mão desde a entrada de Alexandre. se aproxima da janela outra vez. vai acender o cigarro. Alexandre, na porta reaparece, súbito

A - Fanny Ardant!!! viu? lembrei. era Fanny Ardant. (matreiro e galante) já pode fumar o seu cigarro, professora. até mais. té daqui a pouco.



Cena - Eleonora e Paolo, primeiros contatos

Paolo preenchendo documentos na secretaria. CPF, comprovante de residência, certificado disso e daquilo; não vê Eleonora que acaba de entrar. ela o vê, chega por trás e tampa seus olhos, na velha brincadeira

P - quem é?

E - Eu não te vejo há não sei quantos anos, você nunca devolveu aquele meu livro do Foucault, você nunca mais me ligou, o que tudo bem porque eu também não, eu acho que vc não tem Facebook porque não é possível ser tão difícil assim falar com uma pessoa em 2014, se bem que é a sua cara não ter Facebook, teu filho deve tá enorme, eu sinto saudade dele também, xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

P - E quando foi que vc começou a fumar, Eleonora?

eles se abraçam. na euforia do encontro. e o que vc veio fazer aqui, e a pós, e a vida, a Marília, o Danilo, e seu pai, e tudo, e - a Marília faleceu.

e abraço.

e silêncio, e tentar recomeçar o assunto depois de uma dessa. e a pesquisa da Manuela, e se inscreve também você, tem uma grana, vai que a gente estuda junto, só assim mesmo pra conseguir te ver, e vou ver, pode ser uma boa, e foi muito bom te ver, nossa, e foi muito bom ver você também, e você tá tão bonito, envelhecendo bem, e você é que tá bonita, aliás sempre foi, e vamo combinar de tomar um café, e pode ser gelado?, e pode ser chope em vez de café? e anota o meu telefone, e anota você o meu.